quinta-feira, 21 de maio de 2009

Ele é como nós...

Ao colega João Paulo, professor de alunos com necessidades educativas especiais, com um grande abraço de Amizade.

SINTO UM NÓ

Hoje pouco consigo escrever.
Hoje não sou capaz de pensar.
O nó que aqui sinto
Nada me deixa fazer.
Sinto um nó!
Um nó que pouco me deixa respirar,
Um nó que custa a desamarrar...
Hoje sinto um nó!
Um nó daqueles que me obriga
A reflectir e gritar bem alto:
- Quantas vezes somos injustos!
Quantos momentos passaram por nós
Como angústias, como pesadelos
Que poderiam transformar-se
Num outro “estádio”
Do nosso crescimento?
Sinto um nó!
Não sei onde...
Na garganta? No corpo? No cérebro?
Ou na minha mente?
Não sei onde...
Sinto um nó!
Podemos dar tanto aos outros!
Podemos denunciar injustiças...
Devemos reivindicar estratégias,
Mesmo, às vezes, sabendo
Que lutamos contra a maré!
Talvez um dia,
Os ventos soprem connosco
Com tanta, tanta força,
Que o nó que eu sinto,
Se transforme numa corda
Um “continuum” sem limites...
Aí sim!
Iremos, então, sentir
Que todos somos diferentes
E que os ventos e as águas
Pintarão um quadro tão belo,
Que os chamados “diferentes”
Serão iguais quanto nós!
Aí sim!
Gritarei pelas Leis, pelos colegas,
Pelos pais, pelos médicos,
Por toda a gente!
E hei-de escrever, escrever sem parar,
Até ver, com os meus olhos,
O sorriso de felicidade
Estampado no rosto
Dos chamados “deficientes”.
Aí sim!
Continuarei a lutar com eles,
Para eles e para todos nós,
Mas sem gritos!
Sem nó!
Simplesmente com a serenidade
Que o respeito pelo outro me merece.
Porque...
“Ele é como nós”!


(Poema da autoria de Lurdes de Almeida, colega de profissão que não tive o prazer de conhecer pessoalmente. Esta sua belíssima mensagem poética serviu de motivação para uma Acção de Formação que frequentei há uma meia dúzia de anos - "Escola Inclusiva - Ventos de Mudança)

Profª Maria João Marques

2 comentários:

Luz disse...

Pena que a mudança está a andar para trás...
Estamos todos juntos, mas em que condições?
Eu olho o Carlos, a criança multideficiente da nossa sala, aquele anjo de sorriso de Paz, o nosso milagre e fico triste... Que condições lhe possibilitam, que hipóteses temos nós de fazer mais?
Será que no ministério acham que inclusão é enfiar as crianças com necessidades especiais em salas superlotadas e "dispensar" uma professora de ensino especial uma manhã por semana para estar com ele?
O que vale é que os outros intervenientes no processo são crianças e, as crianças têm o coração maior do mundo...
Será isto inclusão ou descargo de consciência.

Isabel Preto disse...

Como compreendo esse nó e essa angústia...Sou professora de dois meninos autistas e tivemos uma menina, que nem sequer se sabia bem qual a sua deficiência, que acabou por abandonar a escola, por não ser feliz lá. Tantas vezes me perguntava o que estávamos a fazer por ela? Pior é querer ajudar e ter tão pouco, ou saber tão pouco...Os meninos autistas, pelo menos parecem felizes, mas um deles iria muito mais longe, com outras condições ou com uma família que o pudesse estimular...