A História de XinavaneEsta é a história do Xinavane, um menino muito pobre que não tinha dinheiro para comer, para ter uma cama ou mesmo um simples cobertor que o pudesse aquecer nas noites mais frias.
Xinavane era um menino com um coração enorme. Trabalhava mais de 10 horas por dia para poder ajudar a sua família.
A sua mãe tinha 5 filhos e mais um que estava para nascer. Ela tinha de cuidar deles: criá-los, amamentá-los, etc, pelo que não podia trabalhar. O seu pai era um alcoólico que, quando chegava a casa, batia na mulher e nos filhos. Xinavane tinha dois irmãos, que trabalhavam nas construções a acartar tijolos, e duas irmãs que trabalhavam na prostituição.
Xinavane sentia que estava nas mãos dele a família ter o que comer. Num dia de muito frio, a família estava reunida em casa a comer um bocado de pão, porque não tinham dinheiro para mais, quando a mãe de Xinavane se sentiu mal e desmaiou. A família ficou toda num alvoroço a pensar que não podiam levar a senhora ao médico, porque não tinham dinheiro. Então, deitaram-na e foram buscar panos com água fria para lhe pôr na cabeça. Quando olharam para ela, viram uma grande mancha de sangue e perceberam logo que a mãe tinham perdido o bebé.
Os vizinhos quando, depararam com a situação, decidiram juntar-se todos para ajudar a pobre família, levando a senhora ao médico. Quando lá chegaram, o médico viu grandes nódoas negras no corpo da senhora e percebeu que a mulher sofria de violência doméstica. Por isso, chamou a assistente social, mas a senhora negou tudo e disse que aquilo era apenas quedas que ela dava. Embora os médicos não tivessem acreditado naquela história, mandaram-na para casa.
Quando a mulher chegou a casa, os filhos estavam todos à porta à espera dela para ouvirem o que o médico tinha dito. Ela chegou, virou-se para os filhos e disse: “A mãe perdeu o bebé, mas o médico disse que está tudo bem.”. Aquela mãe, que se via na obrigação de cuidar dos filhos, não teve coragem de contar o sucedido a nenhum deles.
Nessa mesma noite, o pai de Xinavane não tinha dormido em casa e a mãe ficou preocupada. No dia seguinte, o pai de Xinavane chegou a casa e começou aos berros com a mulher e a acusá-la de terem perdido o bebé. A mulher tentou explicar, mas o pai de Xinavane deu-lhe um estalo tão forte que ela cai pelas escadas abaixo, magoando-se fortemente.
Xinavane, que tinha assistido àquilo tudo, esperou que o pai saísse de casa e foi ajudar a sua mãe. Ela estava num caos. Se calhar, até estava com uma costela partida, mas não dava para ir ao médico.
Xinavane começou a fazer perguntas à mãe, perguntas atrás de perguntas, mas a mãe tentava sempre desculpar o pai, dizendo que ele nunca tinha feito isso e que, se fizera, fora porque ela merecera.
Nessa mesma noite, os irmãos de Xinavane estavam a trabalhar quando o pai chegou a casa, outra vez bêbedo, começou a deitar tudo ao chão e a gritar. A esposa estava a ferver água e ele chegou lá e atirou-lhe a panela com água a ferver, queimando-lhe o braço. Xinavane, ao ver o sofrimento na cara da mãe, correu e começou a dar pontapés ao pai, que lhe deu um estalo muito forte.
Nos dois dias que se seguiram, estava tudo a correr bem, sem agressões. No entanto, um dia, quando Xinavane estava a trabalhar, ouviu uma vizinha a gritar e a dizer que tinham assassinado uma mulher. Xinavane pensou logo que era a sua mãe e decidiu ir a correr para casa. Quando chegou lá, viu os irmãos abraçados a chorar e o pai amarrado pela polícia. Xinavane entrou em casa e viu a mãe deitada no chão, toda queimada, porque o pai lhe tinha deitado gasolina e, depois, tinha-lhe ateado fogo. Xinavane começou a chorar.
Depois deste triste acontecimento, o tempo foi passando e, passados uns anos, a família continuava em sofrimento, apesar de o pai estar preso, pois Xinavane e os irmãos continuavam sem ter que comer. As irmãs dele continuavam na prostituição, continuavam a vender o corpo a pessoas que nem conheciam e já tinham apanhado a sida e outras doenças. Os irmãos trabalhavam no mesmo, eram muito magros, estavam sempre a desmaiar, porque não se alimentavam convenientemente. A determinada altura, a família não comeu durante 3 dias.
Foi então que chegou o dia do pai de Xinavane sair da prisão. Na prisão, ele tinha conhecido um homem que fazia tráfico de crianças e que lhe perguntou se ele queria juntar-se a ele. O pai de Xinavane aceitou, porque percebeu que podia ganhar dinheiro para comprar álcool e droga. Assim, quando saiu da prisão, dirigiu-se para casa. Quando os filhos o viram, juntaram-se todos com medo. Ele abriu a porta e sorriu para os filhos. Eles estavam a tremer e Xinavane virou-se para ele e disse:
- Fizeste mal à mãe, mas podes ter a certeza que não vais fazer isso a nós!
O pai de Xinavane, com um sorriso hipócrita disse:
-Eu não vou fazer-vos mal, pois eu curei-me. Aqueles dias na prisão fizeram-me perceber que vocês são o mais importante que eu tenho na vida.
Os irmãos de Xinavane, ao ouvirem aquilo, correram para o abraçar, mas Xinavane não foi, porque percebeu que aquilo era mais uma mentira do pai. Passados uns dias, o pai de Xinavane decidiu levar Xinavane a dar um passeio, mas, no fundo, aquilo fazia parte do plano para vender o filho. Quando chegaram ao local do encontro, o pai de Xinavane bateu-lhe com tanta força que ele acabou por desmaiar. Então, chegou o cliente e levou-o para o carro. O que o pai de Xinavane não sabia era que esse cliente era um polícia que já estava há muito tempo a descobrir quem fazia o tráfico de crianças naquela região. Então, naquele momento, apareceram carros da polícia por todo o lado e prenderam o pai de Xinavane.
Quando Xinavane acordou, estava numa casa enorme e apareceu-lhe uma bela rapariga que lhe pediu para esperar. Xinavane esperou e apareceu-lhe um senhor que lhe explicou o que acontecera. Então o senhor disse-lhe:
- Xinavane, o teu pai, quando foi para a prisão conheceu um senhor que lhe perguntou se ele queria fazer tráfico de crianças. O teu pai aceitou de imediato, porque percebeu que assim podia ganhar dinheiro para os seus vícios. Ele saiu da prisão e nós apanhamos o cúmplice dele. Entretanto, eu decidi infiltrar-me nessa quadrilha para poder apanhá-los. Fiz-me de cliente e marquei um encontro com o teu pai. Foi então que ele te trouxe e eu apanhei-o.
Xinavane começou a chorar a lembrar-se da mãe. Então o policia disse-lhe:
- Não te preocupes, que o teu pai, com os crimes que tem, vai ficar preso para sempre.
Xinavane respondeu-lhe
- Mas eu tenho de ir ter com a minha família, eles precisam de mim!
O polícia acalmou-o e disse-lhe:
- A tua família já está a vir para aqui. Agora, esta vai ser a vossa casa. Xinavane, diz-me só uma coisa, o teu pai obrigou as tuas irmãs a prostituírem-se porquê?”
Xinavane respondeu-lhe:
- O meu pai obrigou-nos a fazer tudo o que ele queria. Se nós não fizéssemos, ele batia-nos e até podia matar-nos.
Vieram as lágrimas aos olhos do polícia. Então, ouve-se a campainha a tocar. Eram os irmãos de Xinavane que tinham chegado, eles abraçaram-se e começaram a chorar e a pedir desculpa uns aos outros.
Passados 20 anos, Xinavane casou-se com a filha do polícia que tinha salvado a família dele.
Xinavane foi a uma falésia com uma rosa na mão, começou a relembrar tudo o que passou e disse
- Não quero que os meus filhos passem por tudo aquilo que passei. A infância dos meus filhos não vai ser igual à minha.
Em seguida, atirou a rosa ao mar. Aquela rosa branca, para além de ser a flor preferida da mãe dele, era o símbolo da esperança que ele sempre tivera na infância.
Bárbara Santos, 9ºB